Procede-se a uma reflexão introdutória sobre a atualidade do tema da violência interpessoal e da vitimação material, pano de fundo para a realização em 2022, pelo INE, em parceria com a CIG, do Inquérito sobre Segurança no Espaço Público e Privado (ISEPP), e cuja publicação dos respetivos resultados ocorreu no último trimestre de 2023.
Esta apresentação de resultados é precedida de algumas notas de enquadramento sobre esta operação estatística, nomeadamente conceptuais e metodológicas, e de uma breve reflexão sobre a relativa indiferença com que estes dados foram recebidos pelos órgãos de comunicação social, pelas redes sociais, pela comunidade científica e pela população em geral. Destaca-se, ainda, o vasto leque de contextos de violência que são abordados nesta inquirição, que não se circunscrevem à violência em contexto doméstico (ou na intimidade), o que reforça a sua relevância para o conhecimento da violência na sociedade portuguesa, conhecimento suportado num estudo amostral com mais de 21 mil unidades de alojamento e 11,3 mil entrevistas completas, cujos respondentes tinham entre 18 e 74 anos.
Considerando todos os contextos de violência, os resultados apontam para uma prevalência significativa da violência em Portugal, destacando-se, desde logo, a amplitude da violência ao longo da vida, a violência na infância (18,6% dos inquiridos sofreram violência na infância, antes dos 15 anos), o assédio persistente (com maior incidência entre as mulheres, nos mais jovens e nos mais escolarizados), as diferenças regionais acentuadas (com destaque para os territórios insulares). A perceção social generalizada da violência, sobretudo contra as mulheres, torna deveras interpelante este acervo empírico disponibilizado pelo INE.
An opening reflection is provided on the urgency of interpersonal violence and material vitimization, which forms the backdrop for the 2022 survey on safety in public and private spaces (ISEPP) carried out by INE in partnership with CIG. The results of this survey were published in the last quarter of 2023.
This presentation of findings is preceded by some background notes on this statistical operation, namely conceptual and methodological, and a brief reflection on the relative indifference with which the media, social networks, the scientific community and the general population received these findings. Also noteworthy is the wide range of contexts of violence addressed in this survey, which are not limited to violence in the domestic (or intimate) context, reinforcing its relevance for understanding violence in Portuguese society. This understanding is supported by a sample study of more than 21,000 households and 11,300 complete interviews with respondents aged between 18 and 74.
Considering all contexts of violence, the results point to a significant prevalence of violence in Portugal, highlighting, first and foremost, the extent of violence throughout life, violence in childhood (18,6% of respondents suffered violence in childhood, before the age of 15), persistent harassment (with a higher incidence among women, younger people and those with higher levels of education), and marked regional differences (particularly in insular areas). The widespread social perception of violence, especially against women, makes this empirical data provided by INE particularly challenging.
Se procede a una reflexión introductoria sobre la actualidad del tema de la violencia interpersonal y de la victimización material, marco de referencia para la realización en 2022, por parte del INE, en colaboración con la CIG, de la Encuesta sobre Seguridad en el Espacio Público y Privado (ISEPP), cuyos resultados se publicaron en el último trimestre de 2023.
La presentación de los resultados va precedida de algunas notas contextuales sobre esta operación estadística, en particular de carácter conceptual y metodológico, y de una breve reflexión sobre la relativa indiferencia con la que estos resultados han sido recibidos por los medios de comunicación, las redes sociales, la comunidad científica y la población en general. Cabe destacar, además, la amplia gama de contextos de violencia que se abordan en esta encuesta, que no se limitan a la violencia en el contexto doméstico (o en la intimidad), lo que refuerza su relevancia para el conocimiento de la violencia en la sociedad portuguesa, conocimiento respaldado por un estudio muestral con más de 21 000 unidades de hogar y 11 300 entrevistas completas, cuyos encuestados tenían entre 18 y 74 años.
Teniendo en cuenta todos los contextos de violencia, los resultados apuntan a una prevalencia significativa de la violencia en Portugal, destacando, en primer lugar, la amplitud de la violencia a lo largo de la vida, la violencia en la infancia (el 18,6 % de los encuestados sufrió violencia en la infancia, antes de los 15 años), el acoso persistente (con mayor incidencia entre las mujeres, los más jóvenes y los más escolarizados), las marcadas diferencias regionales (con especial atención a los territorios insulares). La percepción social generalizada de la violencia, especialmente contra las mujeres, hace que este conjunto de datos empíricos facilitados por el INE sea realmente interpelante.